UM BLOG SOBRE TUDO UM POUCO E SOBRE MERDA NENHUMA!!!

terça-feira, 25 de novembro de 2014

A massagem de "Prevenção"...

Ora, há uns anos atrás, era eu apenas uma jovem Amarguinha, iniciei a minha carreira a dar massagens numa Clínica do Estoril. Clínica esta, cuja descrição dada ao telefone, em muito se assemelhava às gigantescas Clínicas Malo .

1ª dia de trabalho:
Lá vou eu, no meu Batmobile (o carro novo), feliz e sorridente, a caminho do Monte do Estoril.
Nada me pode correr mal! I'm the queen of the World!!!
Começo logo por apanhar 1 hora de fila, porque o trânsito está impossível devido a um acidente na marginal.
Um pouco menos sorridente, chego ao local, começo às voltinhas com o carro curiosa para ver a tal Clínica (vocês sabem, a gémea das Clínicas Malo), e eis que dou de caras com uma mini-porta acompanhada de uma mini-montra, um mini-toldo (e mais à frente veremos que a condizer há uma mini-recepcionista).
Perante toda aquela "ostentação", perco o resto do meu contentamento, mas (persistente) vou na minha batalha de procurar um lugar para o Batmobile. Tendo em conta que está tudo cheio, resolvo enfiar-me numa rua estreitinha e bastante íngreme, onde espero encontrar um lugar.
Subo cerca de 100 metros, até chegar ao fim da rua (sem saída), não restando outro remédio senão fazer inversão de marcha numa estrada cuja largura é, possivelmente, 2 metros.

Inicio do Inferno:
Ao fim de 12 manobras, já me doem os braços e as costas (o que começa a desvalorizar seriamente o meu trabalho como massagista), resolvo descansar um pouco os braços (e o pé do travão) e deixo o carro descair em direcção a uma vala, ficando com as duas rodas de trás suspensas no ar e com as rodas da frente (ainda) na estrada, enquanto o Batmobile oscilava preso no chassis (qual filme de acção do Wesley Snipes).
No pânico tento sair dali (pela janela) mas não consigo, grito um bocado (só um bocadinho), choro bastante, e, ligo para o meu pai  em pranto a gritar que estou a cair num abismo(?), algures no Estoril.
O meu pai (esse autêntico herói) confuso, pois não sabia da existência de abismos no Estoril, mas cheio de boa vontade, diz-me para ter calma, larga tudo e vem a correr salvar a sua princesa.


Entre derrapagens, prantos e balanços, lá consigo tirar o carro do "abismo", ficando com 2/3 dos pneus (novos) agarrados ao alcatrão, e, com as embaladeiras (novas)  dentro da vala.
Saio com o Batmobile a alta velocidade daquela rua (como que a fugir da estrada do inferno), aos gritos (para espantar os espíritos); na fuga levo o espelho lateral de um carro que está estacionado em cima da curva (o que me faz gritar um pouco mais alto), até que volto à praceta no Monte do Estoril onde encontro um lugar e estaciono finalmente!
Ligo para o meu pai, e digo-lhe que já não é preciso vir porque já consegui tirar o carro. O meu pai (esse Batman cheio de paciência que tenta sobreviver numa casa dominada por mulheres menstruadas), agradece-me muito e, entre 4 ou 5 caralhadas, diz-me que, por minha causa, está preso na pu** da fila da marginal.
Numa tentativa inglória de me recompor, pego numas toalhitas que tinha no porta-luvas, sem perceber que eram as de limpar o tablier, e limpo a maquilhagem esborratada da cara,ficando com um pivete de óleo de cedro com pinho.
Respiro fundo e lá vou eu dar uma massagem na  tal Clínica.



A Clínica:
Bem, não lhe chamemos "Clínica", mas antes um Mini-mercado de estética (mais coisa menos coisa). Um estabelecimento comercial em miniatura com cremes de rosto e corpo (daqueles caros para ca**lho, que as super-tias levavam e "pagavam" depois).
Entro e deparo-me com a recepcionista, também ela em miniatura (até porque se fosse muito grande não cabia no espaço), muito atenciosa, leva-me até ao gabinete de massagem - um cubículo nas traseiras - onde cabia uma marquesa ao centro, um catalítico a gás que ocupava 1/5 da sala, um cesto de toalhas que ocupava mais 1/5, uma secretária ao cantinho, e, infelizmente para mim, várias prateleiras de vidro na parede (que se vão revelar um problema).

A Massagem (de prevenção):
Ora, o gabinete está a ferver, porque o catalítico esteve ligado toda a tarde, e dentro do gabinete, a ferver com o catalítico, estou eu (a suar e a cheirar a óleo de cedro com pinho)!
Entra a cliente, faço-lhe umas perguntas rápidas, com a sua voz nasalada diz-me que é jornalista da revista TV7dias (finíssima!) e que só vai fazer massagem para prevenção, porque não tem, nem nunca teve dores.
Deito-a na marquesa com mil cuidados, tapo-a como um bebé e vou preparar os óleos. Escolho cuidadosamente os aromas e preparo também umas ventosas (really bad idea!)
Inicio a massagem nas costas, e a cliente faz aqueles gemidinhos de quem está a gostar muito. Estou eu super concentrada quando oiço um barulho metálico estridente, a marquesa abre-se pelo meio e a jornalista que está deitada de barriga para baixo, cai-me estatelada no chão sob a forma de "v" (podia jurar que os calcanhares lhe tocaram na nuca). Apavorada, apanho a cliente (que afinal até só queria "prevenir-se" de futuras dores) e chamo a mini-recepcionista.
A recepcionista calmíssima:
R- Ah já sei, foi a marquesa que se abriu outra vez?
Eu- Como???? Outra vez??
R- Sim, isto acontece de vez em quando.
Eu(Não sei se chore, não sei se fuja, não sei se me mate!)- ...

Volta-se a montar a marquesa, peço mil desculpas à cliente, que (inexplicavelmente) quer continuar a massagem.
Eu, cheinha de boa vontade e de medo de fazer força em cima da marquesa que se está a desconjuntar, resolvo mudar a táctica: e vamos para ventosaterapia!


Preparo as ventosas, acendo a lamparina e quando vou para pegar fogo à tocha, a chama sobe-me pela mão até ao cotovelo, ficando com o braço a arder!
Perante o cenário "on fire" desato a correr à volta da marquesa fazendo movimentos de bater as asas na esperança que o fogo apague (ridículo). Na 2ª volta à marquesa, lá enfio o braço no cesto das toalhas e apago o fogo.




A cliente, que deve ter achado que só me tinha apetecido exercitar as pernas, continuava de barriga para baixo, alheia aos acontecimentos e imersa na música pan pipe.
Eu, deprimida, transpirada, e agora, a cheirar a porco queimado, resolvo mudar novamente a estratégia, e regresso à massagem (seja o que Deus quiser!).
Viro-me repentinamente para ir buscar os óleos, num último acto de fé, e espeto com a testa numa das prateleiras de vidro, o que me aleija para ca**lho e me faz um galo gigante. Praguejo um bocado, mas a cliente continua alheia ao meu sofrimento! Cega pela dor, faço a massagem usando apenas o tacto.


Acabo o tratamento, peço muita desculpa à cliente (que, se até à data nunca tinha tido dores, certamente iria ficar com várias) e vou a voar para casa, com um galo na testa, e, a tresandar a suor, óleo de cedro com pinho e porco queimado.

Quando finalmente estacionei no conforto do lar, o meu pai (ignorando o meu ar completamente decrépito) olha para o Batmobile e pergunta-me:
Pai- Ó filha, o que é que aconteceu? Onde é que estão as embaladeiras do carro?
Eu (incrédula)- Ah...Acho que estão numa vala no Monte do Estoril...

E depois chorei muito agarrada ao meu pai (porque tive um dia da merda), que por sua vez, também chorou muito agarrado à minha mãe (porque me ofereceram um carro novo, agora sem embaladeiras)...

Fim!

Amarguinha

Sem comentários:

Enviar um comentário

As amargas vão ler o teu comentário e aprová-lo (mas só se for assim muito devasso)!